quarta-feira, 21 de novembro de 2007

STRESS

Atualmente, recebo muitas pessoas em meu consultório se queixando de stress.

Mas o que é exatamente o stress?

“Stress é uma palavra bem antiga em inglês, que veio adquirindo ao longo do tempo diversas acepções, cuja datação histórica encontra-se detalhada no Oxford English Dictionary.
O dicionário dá a palavra stress como forma derivada por aférese (perda de letra ou sílaba inicial) de distress, admitindo ainda a filiação ao francês antigo estresse (estreitamento, aperto), oriundo este do latim strictus, particípio passado do verbo stringere, estreitar, apertar, comprimir, através do latim vulgar strictia.

Em 1936 Hans Selye, médico e pesquisador austríaco que trabalhava em Montreal, no Canadá, empregou pela primeira vez como termo médico, a palavra inglesa stress para caracterizar qualquer agente ou estímulo, nocivo ou benéfico, capaz de desencadear no organismo mecanismos neuroendócrinos de adaptação.”

E por que sentimos stress?

O mecanismo orgânico gerado pelo stress era muito útil para nossos ancestrais quando estes se encontravam frente a uma onça, por exemplo. Pois desta forma eles estariam prontos para lutar ou fugir do perigo iminente.

Porém hoje em dia, a onça que acionava o stress no organismo do nosso amigo ancestral mudou de roupagem e agora se apresenta como: contas a pagar, prazos cada vez mais curtos, trânsitos caóticos, violência urbana, trabalho aos fins de semana e tantas outras questões vividas diariamente.

No momento em que vivemos tantas necessidades urgentes, o stress se faz presente, e nosso organismo é ativado cada vez que reconhece nestas exigências uma ameaça.

Seria tudo muito simples.

Temos uma exigência, nosso organismo a reconhece, nos prepara para lutar ou fugir, seguimos em uma das direções e pronto, acabou o problema.

Porém, não é bem assim.

A energia liberada pelo stress não encontra mais alvo. Ela é desencadeada em situações que não trazem ameaças reais a sobrevivência, logo, ela se volta para aquele que deveria ajudar, prejudicando o sistema de equilíbrio dinâmico do organismo.

O stress é considerado pela Organização Mundial de Saúde uma das maiores ameaças à saúde do século XXI.

E depois de saber disso tudo, o que fazer?

É preciso direcionar o olhar para si, e observar os pilares sobre os quais a vida se baseia: nossa existência física, a família, os amigos, o lazer, as crenças religiosas...
Nesses campos, e em tantos outros que se possa pensar, temos a possibilidade de resgatar vivências que agem positivamente em nosso existir, compensando os momentos tumultuados da rotina e devolvendo o sabor da vida.

Mas não pense em eliminar definitivamente o stress da sua vida. Além de ser impossível, o stress faz parte da vida e também se apresenta de forma positiva, sendo chamado de eustress.

O bom stress (eustress) possibilita reações a ameaças reais, a mudanças, bem como o estímulo a ação em situações que exigem resistência ou adaptação.

Dessa forma, podemos verificar que observar como se lida com as atribulações do dia a dia se faz necessário para não cair na armadilha do stress nocivo, citado na linguagem comum como sinônimo de cansaço, fadiga e preocupação.
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Psicóloga Katiane Fagundes

domingo, 21 de outubro de 2007

O que é Psicopedagogia

Todos nós aprendemos de forma diferente, uns aprendem mais rápido, outros mais devagar, uns são mais visuais, outros auditivos, por exemplo. Há também diferentes formas de ensinar. Os atos de aprender e ensinar estão tão interligados que não é possível mais separá-los dentro do processo educacional.Como se aprende/ensina? Porque alguns aprendem outros não? Qual a origem da dificuldade em aprender determinado conteúdo/habilidade? São algumas das perguntas feitas pela Psicopedagogia. Seu objeto de estudo são os atos de aprender e ensinar, levando em conta o ser que aprende, ensina, modifica e é modificado, em sua singularidade.A Psicopedagogia surge da necessidade de compreender o processo educacional de uma maneira interdisciplinar, buscando para este desafio fundamentos na Pedagogia, na Psicologia e em diferentes áreas de atuação. Podem ser muitas as razões que determinam o sucesso ou o fracasso escolar de uma criança, como: fatores fisiológicos, psicológicos, sociais ou pedagógicos.A Psicopedagogia Clínica busca investigar as possíveis dificuldades no processo educacional - observando os aspectos físicos, sociais, emocionais e cognitivos - e intervir de modo a remover ou minimizar as barreiras que impedem ou dificultam a aprendizagem. O Psicopedagogo realiza entrevistas, avaliações, atividades lúdicas e diferentes instrumentos para identificar estas barreiras. Ele intervém orientando os pais, os professores e ajuda o próprio indivíduo (ou grupo) a conhecer seus mecanismos de aprendizagem, entendendo-o como sujeito ativo e protagonista deste processo.

Psicomotricidade e Psicologia

Para Vygotsky (1929) o ser humano se caracteriza por uma sociabilidade primária. Henri Wallon expressa a mesma idéia de modo mais categórico: "Ele (o indivíduo) é geneticamente social". (Wallon, 1959)Na época de Vygotsky este princípio não passava de um postulado, uma hipótese puramente teórica. Porém, atualmente, pode-se afirmar que a tese de uma sociabilidade primária, e, em parte, geneticamente determinada, possui quase um estatuto de fato científico estabelecido como resultado da convergência de duas correntes de investigação: por um lado, as investigações biológicas, como as relativas ao papel que desempenha a sociabilidade na antroprogênese; por outro lado, as recentes investigações empíricas sobre o desenvolvimento social da primeira infância que demonstram amplamente a tese de uma sociabilidade primária e precoce.A sociabilidade da criança é o ponto de partida das interações sociais com o meio que o rodeia. Os problemas de interesse da psicologia da interação social são atualmente bastante conhecidos e, por esse motivo, nos limitaremos aqui a mencionar brevemente algumas particularidades da concepção de Vygotsky. Por origem e por natureza o ser humano não pode existir nem experimentar o desenvolvimento próprio de sua espécie como uma ilha isolada, tem necessariamente seu prolongamento nos demais; de modo isolado não é um ser completo.Para o desenvolvimento da criança principalmente na primeira infância, o que se reveste de importância primordial são as interações assimétricas, isto é, as interações com os adultos portadores de todas as mensagens da cultura. Nesse tipo de interação o papel essencial corresponde aos signos, aos diferentes sistemas semióticos, que, do ponto de vista genético, tem primeiro uma função de comunicação e logo uma função individual: começam a ser utilizados como instrumentos de organização e de controle do comportamento individual.Este é precisamente o elemento fundamental da concepção que Vygotsky tem da interação social: no processo de desenvolvimento desempenha um papel formador e construtor.Isso significa simplesmente que algumas das categorias de funções mentais superiores (atenção voluntária, memória lógica, pensamento verbal e conceitual, emoções complexas, etc.) não poderiam surgir e constituir-se no processo do desenvolvimento sem a contribuição construtora das interações sociais.Na teoria da psicogênese da Pessoa Completa Wallon (1989) procura explicar os fundamentos da psicologia como ciência, seus aspectos epistemológicos, objetivos e metodológicos. Admite o organismo como condição primeira do pensamento, pois toda a função psíquica supõe um componente orgânico. No entanto, considera que não é condição suficiente, pois o objeto de ação mental vem do ambiente no qual o sujeito está inserido, ou seja, de fora. Considera que o homem é determinado fisiológica e socialmente, sujeito às disposições internas e às situações exteriores. A psicologia genética estuda os processos psíquicos em sua origem, parte da análise dos processos primeiros e mais simples, pelos quais cronologicamente passa o sujeito. Para Wallon essa é a única forma de não dissolver em elementos separados e abstratos a totalidade da vida psíquica. Wallon propõe a psicogênese da pessoa completa, ou seja, o estudo integrado do desenvolvimento. Considera que não é possível selecionar um único aspecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil ( afetivo, motor e cognitivo ).Para ele o estudo do desenvolvimento humano deve considerar o sujeito como “geneticamente social” e estudar a criança contextualizada, nas relações com o meio. Este autor recorreu a outros campos de conhecimento para aprofundar a explicação dos fatores de desenvolvimento (neurologia, psicopatologia, antropologia, psicologia animal). Para ele a atividade do homem é inconcebível sem o meio social; porém as sociedades não poderiam existir sem indivíduos que possuam aptidões como a da linguagem que pressupõe uma conformação determinada do cérebro, haja vista que certas perturbações de sua integridade, privam o indivíduo da palavra. Vemos então que para ele não é possível dissociar o biológico do social no homem. Esta é uma das características básicas da sua Teoria do Desenvolvimento.De acordo com Dantas (1992) Wallon concebe o homem como sendo genética e organicamente social e a sua existência se realiza entre as exigências da sociedade e as do organismo.Dantas (1992) destacava na teoria de Piaget as contradições e dessemelhanças entre as suas teorias, pois considerava esse o melhor procedimento quando se busca o conhecimento. Por parte de Piaget existia uma constante disposição em buscar a continuidade e complementaridade de suas obras. Os dois se propunham a análise genética dos processos psíquicos, no entanto, Wallon pretendia a gênese da pessoa e Piaget a gênese da inteligência.Com a psicanálise de Freud, mantém uma atitude de interesse e ao mesmo tempo de reserva. Embora com formação similar (neurologia e medicina) a prática de atuação os levou a caminhos distintos. Freud abandonando a neurologia para dedicar-se a terapia das neuroses e Wallon mantém-se ligado a esta devido ao seu trabalho com crianças com distúrbios de comportamento.O método adotado por Wallon é o da observação pura. Considera que esta metodologia permite conhecer a criança em seu contexto, “só podemos entender as atitudes da criança se entendermos a trama do ambiente no qual está inserida”.

Giano José Azevedo